Rock da Legião Urbana invade os cinemas
Se nesta sexta (26) a história de um super-herói metálico invade centenas de cinemas no Brasil, na sexta-feira seguinte (03/05) a história de um outro herói - esse brasileiro, míope e que ficou numa cadeira de rodas parte de sua adolescência - também não deixa por menos, indo tomar, no mínimo, 500 salas de cinema no País. O filme é “Somos Tão Jovens”, de Antônio Carlos da Fontoura, e o herói, para milhões de fãs, é o músico Renato Russo (1960-1996). A produção é a maior investida da distribuidora Imagem Filmes, numa parceira com a Fox Films.
A produção, que cobre os anos de 1976 a 1982, período de formação musical do artista e das bandas Aborto Elétrico e Legião Urbana, é uma dos três produções em cinema que olha com carinho para o maior momento da efervescência musical na Capital Federal. Unem-se a ele o documentário “Rock Brasília: Era de Ouro”, lançado por Vladimir Carvalho em 2011, e “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio, com estreia marcada para 31 de maio. Este último inspirado na música homônimo do líder do Legião.
“Somos tão Jovens”, entretanto, é o filme que deve pegar os fãs (e não-fãs) pelo coração, uma vez que Fontoura priorizou aqui o lado humano do ídolo. As fragilidades, dúvidas e inquietações que vemos no Renato Russo extremamente bem caracterizado por Thiago Mendonça (o Luciano de “2 Filhos de Francisco”) deixa “Somos Tão Jovens” mais universal e aberto inclusive para o mercado estrangeiro. “No Uruguai, por exemplo, o Renato tem um fã-clube incrível”, lembrou o diretor em entrevista coletiva na tarde de terça-feira em São Paulo.
Na mesma conversa Thiago Mendonça ressaltou que o grande desafio foi exatamente conseguir um distanciamento para fazer seu Renato mais livre da ideia do ídolo. “Eu tinha que evitar o endeusamento e precisei encará-lo como o filho de Dona Carminha. O Juninho. Aquele cara agitado, daquela turma de amigos na Brasília dos anos 1970”, recorda.
Mendonça, que nasceu em 1980, era criança quando o Legião Urbana estourou nas rádios. Foi atrás, então, de muito material de arquivo para pesquisar. Lembrou ainda de ver outros filmes que retratam ídolos do rock - “The Doors”, “Control” (sobre Ian Curtis, do Joy Division) e “Cazuza: O Tempo não Pára”. Mas o grande laboratório foi mesmo o contato com a família do cantor, assim como o livro “Renato Russo: O Filho da Revolução” (Editora Agir), de Carlos Marcelo.
A atriz Laila Zaid - que vive Aninha, uma personagem fictícia, sintetizando as amigas de Renato e que o teria inspirado para a música “Ainda é cedo” - lembra por exemplo de um momento que traduz bem a interação da equipe com a família do artista. “No início, quando o Thiago ia fazer a sequência em que o Renato mancava na adolescência, ele não sabia qual era a perna manca. Perguntou a Dona Carminha, que também não lembrava. Aí ela disse ao Thiago: Senta no meu colo. O Thiago sentou e aí, revivendo a situação, ela conseguiu lembrar. Era esse o nível de emoção no set”, disse.
Umas das composições mais delicadas foi feita por Bianca Comparato (filha do roteirista Doc Comparato), como Carmen Teresa, irmã mais nova de Renato Russo. “Tive cerca de dois anos de conversas com Carmen, que hoje tem pouco mais que 40 anos. Eu a observava muito, principalmente no seu humor, e tinha de pensar como ela seria na adolescência”. O cineasta brasiliense Bruno Torre - que vive o baterista Fê Lemos, da banda Aborto Elétrico - conversou apenas por fone com o verdadeiro personagem, mas reforça a importância do livro de Carlos Marcelo no seu trabalho. “Os depoimentos que ele colheu para o livro eram ótimos norteadores para entendermos o espírito da época”.
Fonte: Folha de PE
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